O momento é de resguardo. Por ela, pelos seus filhos. Neste domingo (29), quando a cidade de Salvador completa 471 anos, talvez ela não exija nada mais que cuidado de seus munícipes. Nada de festa, como já estávamos acostumados. Sem toques e abraços. Só o isolamento social e distanciamento — de 1,5 m como recomenda os infectologistas. Logo a gente que aproveita qualquer brecha para estar juntos numa farra. O momento exige e a pandemia não perdoa. Já são 114 pessoas mortas vítimas da Covid-19 no Brasil até esta manhã.
Se a pandemia não estivesse assolando o mundo, este ano comemoraríamos mais uma primavera com a oitava edição do Festival da Cidade. Evento cancelado pelo bem de todos. A medida, inclusive, foi uma das primeiras anunciadas pelo prefeito ACM Neto no dia 13 deste mês, diante dos quatro casos da nova coronavírus registrados no estado. Todos em Feira de Santana. Àquela altura, a princesa do sertão decretava estado de emergência.
Depois, veio o fechamento dos shoppings, academias, salas de cinema, bares, restaurantes e a interdição de seis praias, entre elas a do Porto da Barra, a faixa de areia que mais consegue resumir o espírito soteropolitano. Hoje, a capital baiana concentra 81 pessoas infectadas, de acordo com o último boletim emitido pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) no final da tarde do sábado (28). A maioria dos pacientes são moradores do bairro da Pituba.
“Não cabe, não há qualquer sentido fazer uma festa como essa, relacionada à alegria, em um momento de preocupação. Faremos, ao que tudo indica, no próximo semestre”, disse Neto durante uma coletiva de imprensa. O gestor se despede do Palácio Tomé de Souza neste ano.
Com as medidas cada vez mais restritivas e necessárias, diga-se de passagem, a cidade mudou de rosto. Se estivesse vivo, Castro Alves, filho do Recôncavo, mas acolhido por esta terra, vendo a capital morumbunda, encheria o peito diante da Baía de Todos-os-Santos e, tomado pela sensibilidade reservada aos poetas, declamaria, mais uma vez, um dos trechos dos seus poemas mais conhecidos: “Ó mar! por que não apagas/ Co’a esponja de tuas vagas/ De teu manto este borrão?…”.
Os artistas, políticos e representantes culturais e religiosos vivos se solidarizam com a crise global. Se dependerem deles, a festa fica para depois. Mas a data não pode passar batida e deve ser lembrada do alto das sacadas e janelas.