Trabalhadores comemoram a beleza e o resultado da requalificação dos arcos da Ladeira da Conceição, no Centro, uma das principais áreas históricas de Salvador. Além de promover arte e cultura dos artífices e profissionais artesãos que trabalham no local, o espaço ganhou um conjunto de cores harmônicas e iluminadas, combinando com a vista e a beleza da Baía de Todos-os-Santos, ali em frente. O artífice é o trabalhador artesão que produz algum objeto através de atividades e trabalhos manuais.
No total, são 15 arcos ocupados e cerca de 50 profissionais artífices atuantes, além de três representantes. Ali, exercem a função de serralheiros, ferreiros e marmoristas. No local, são produzidas peças, como bancadas e pias de mármore, beiral de piscina, portão e corrimão de ferro, além de esculturas e diversas peças de ferro. Para realização da obra, foram investidos pela Prefeitura aproximadamente, R$ 3,4 milhões. A requalificação faz parte de um conjunto de 35 iniciativas para a revitalização do Centro Histórico, que, juntas, somam cerca de R$ 300 milhões em investimento.
Para um dos representantes dos artífices, Telmiro Rocha, de 33 anos, a requalificação veio para fazer a diferença no local e trazer muitos benefícios. “A reforma foi muito significativa para todos nós e trará muitas melhorias. A clientela vai aumentar, turistas e curiosos vão passar a visitar, para conhecer a nossa arte. Até os soteropolitanos que ainda não conhecem o espaço vão ter o desejo de conhecer. Através dessa mudança que foi realizada aqui, a procura pelo nosso trabalho vai melhorar bastante. Temos uma história nesse lugar, é muito gratificante ver a nossa arte e o nosso espaço sendo preservado e valorizado”.
Conhecido como Zé Diabo, José Adário, de 67 anos, é ferreiro, serralheiro e um dos artífices mais antigos da ladeira, além de ser conhecido mundialmente por produzir peças de ferro para orixás. Ele lembrou a importância da revitalização do espaço. “Melhorou muito, foi uma obra muito boa, que veio para somar à nossa arte. Muitos trabalhadores foram nascidos e criados pelos antepassados nesta localidade. O trabalho produzido aqui é uma arte passada de geração para geração. Nós estamos muito felizes com essa reforma”, afirma.
Já o serralheiro Edmilson Rodrigues, de 70 anos, acredita que a revitalização vai oportunizar a formação de novos profissionais para a atuação no ofício no local. “O meu ofício é uma relação de mestre com aprendiz, eu tenho muito orgulho de exercer a minha arte e compartilhar os meus conhecimentos com outras pessoas. É uma felicidade ver esse espaço totalmente requalificado, vai valorizar ainda mais o trabalho dos artífices e a cultura raiz dessa área histórica”, destacou.
Há mais de 100 anos, a Ladeira da Montanha e os arcos da Ladeira da Conceição são alguns dos símbolos de Salvador. A Montanha é sustentada por arcos que foram erguidos como pilares de apoio e formam galerias, que acabaram se tornando local de trabalho dos tradicionais ferreiros, que batalham para que a arte dure em Salvador. De acordo com Telmiro, que nasceu e foi criado no local, o intuito da obra realizada na Ladeira da Conceição era apenas fazer arcos que sustentassem a Ladeira da Montanha, mas as pessoas acabaram utilizando para moradia e comércio.
Foto: Bruno Concha/Secom