O Quilombo Pitanga dos Palmares, localizado em Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), promove, até amanhã (18), a 7ª edição do Festival de Cultura e Arte Quilombola. Na manhã deste sábado (17), uma missa foi celebrada em memória a Mãe Bernadete, que completa um ano de falecida. A líder religiosa é a homenageada do evento, que também trouxe uma saudação a Oxumaré.
Para Wellington Gabriel, neto de Mãe Bernadete, o encontro demonstra a união de forças para celebrar todas as contribuições dela para a própria comunidade quilombola e para todas as comunidades quilombolas do Brasil. “É um momento importantíssimo porque, junto com o festival, a gente relembra que hoje faz um ano que Mãe Bernadette foi assassinada. Amanhã, nós teremos um prêmio, ela vai ser homenageada com o prêmio. Nada mais é do que um reconhecimento, um pequeno pedaço da luz dela, que fará com que outros líderes sejam reconhecidos”, afirma.
Diversas atividades, incluindo apresentações culturais de música e dança tradicionais, oficinas de gastronomia, dança, e artesanato em barro, piaçava e palha da costa, fazem parte da programação. No local, o Museu Rústico Mãe Bernadete, com roupas, acessórios e objetos utilizados pela ebomi, foi inaugurado e está aberto ao público para visitação.
A secretária de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais, Ângela Guimarães, lembrou do apoio do Governo do Estado, por meio da própria pasta, a Sepromi, e da Secretaria de Cultura (Secult-BA), com a Lei Paulo Gustavo: “celebramos a liderança nata, liderança inquestionável, incontestável, dessa comunidade quilombola na sua luta por reconhecimento, por dignidade e por direitos. Estar aqui é reafirmar o compromisso do Governo do Estado com as lutas lideradas por Mãe Bernadete”.
A edição deste ano, que tem como tema “Mãe Bernadete, o legado continua”, homenageia a líder comunitária, religiosa e mobilizadora do evento, que foi brutalmente assassinada em 2023. O objetivo do encontro é, também, fortalecer a memória cultural das comunidades. As atividades do festival são gratuitas e abertas ao público.
“Essa homenagem é muito importante porque Mãe Bernadete era uma pessoa com um coração de ouro, onde cabia todos nós. E é por isso que vocês estão vendo aí tanta gente a prestigiando nesse dia. Ela era uma pessoa boa, acudia a todos da comunidade, por exemplo, a mim mesma. É por isso que a gente está contando essa história”, destacou dona Tina, moradora do Quilombo Pitanga dos Palmares há 20 anos.
“Mãe Bernadete é uma liderança nacional. O festival celebra e mantém viva a esperança, a luta”, completou a ministra das Mulheres do Brasil, Cida Gonçalves.
Até domingo (18), os participantes poderão vivenciar uma rica programação que reúne manifestações culturais e saberes tradicionais de oito comunidades quilombolas da Bahia. Entre elas, os moradores dos quilombos Pitanga dos Palmares (Simões Filho), Dandá (Simões Filho), Rio dos Macacos (Simões Filho), Quingoma (Lauro de Freitas), Matinha dos Pretos (Feira de Santana), Cordoaria (Camaçari), Alto do Tororó (Salvador) e Fazenda Retiro (Terra Nova).
A programação do último dia será aberta com a Caminhada da Diversidade, com foco no respeito, tolerância religiosa e diversidade cultural, bem como a busca pela paz. Em seguida, haverá a entrega do Prêmio Mãe Bernadete.
“A morte de mãe Bernadete ensejou toda uma série de iniciativas do Governo do Estado na direção da necessária garantia da propriedade, de defensores dos direitos humanos e, também, na busca por resolver problemas históricos dos quilombos, que é a regularização fundiária e a garantia do acesso às políticas públicas essenciais, como saúde, saneamento, educação e, sobretudo, o reconhecimento.”, ressaltou a secretária estadual de Políticas para as Mulheres, Neusa Cadore.
A caminhada contará com a presença de representantes de instituições políticas e culturais, organizações da sociedade civil e grupos religiosos e LGBTQIA+. Durante o dia, os visitantes também irão conferir uma feira com produtos da agricultura familiar, artesanato e gastronomia, com a presença de 25 mestres e mestras artesãs das comunidades quilombolas. O público poderá acompanhar, ainda, o processo de produção de farinha em uma Unidade Móvel Casa de Farinha.
Programas de proteção
“A presença da SJDH, da Sepromi, da Secretaria das Mulheres e do Ministério das Mulheres nesta homenagem reafirma o compromisso tanto do Governo do Estado quanto do Governo Federal com essas causas existentes no Brasil inteiro, e que o Estado tem a responsabilidade de acompanhar, dar respostas e encontrar caminhos para garantir direitos. Os programas de proteção têm por objetivo garantir direitos às populações tradicionais. São três programas de proteção, PPCAM, PPDDH e Provita, desenvolvidos na SJDH, junto ao Ministério de Direitos Humanos e Cidadania, são programas que têm o caráter, de fato, de proteção à violação dos direitos. Fazemos isso com uma grande rede de parceiros do sistema judiciário e sempre estamos dispostos no processo de escuta dessas comunidades”, destacou o secretário interino da Secretaria da Justiça e Direitos Humanos (SJDH), Raimundo Nascimento.
Realização e apoio
O Festival de Cultura e Arte Quilombola é organizado pelo Quilombo Pitanga dos Palmares e pela Associação Etno Desenvolvimento Muzanzu, com apoio da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais (Sepromi), Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa), Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) e Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR).
O evento foi contemplado pelos editais da Lei Paulo Gustavo Bahia (PGBA), criada para a efetivação das ações emergenciais de apoio ao setor cultural, visando cumprir a Lei Complementar nº 195, de 8 de julho de 2022. Recebe apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia, através da Secretaria de Cultura, direcionada pelo Governo Federal.
Fotos: Mateus Pereira/GOVBA