O projeto “Era uma vez…Brasil” levará, no mês de novembro, alunos da rede municipal de ensino de Salvador a uma viagem a Portugal, refazendo o caminho da família real portuguesa até chegar ao Brasil, em 1808, relembrando momentos e conhecendo lugares importantes, que fazem parte das origens da história brasileira.
Além de Salvador, a iniciativa mobiliza, simultaneamente, professores de história e alunos do 8º e 9º anos da rede pública de ensino, de outras sete cidades brasileiras: Mata de São João (BA); Jacobina (BA); Belo Jardim (PE); e Lençóis Paulista, Macatuba, Ribeirão Preto e Serrana (SP). Ao todo, foram mais de 25 escolas participantes, com dez alunos contemplados.
No bairro da Liberdade, a Escola Municipal Pirajá da Silva vai enviar, pela terceira vez consecutiva, um aluno para a viagem. A diretora da escola, Daniela Souza, afirma que a experiência é muito gratificante, para a escola e para os alunos. “Desperta neles o interesse sobre o descobrimento, a vinda da família real portuguesa ao Brasil e aumenta o engajamento dos professores no trabalho”.
Aos 13 anos, o jovem Cauã Reis dos Santos não esconde a empolgação com a ida a Portugal. Aluno do 8º ano, ele conta que ficou fascinado com o projeto no campus e a perspectiva da viagem a Portugal. “Gosto muito de história, então o assunto me inspirou”. O aluno destaca que, no bicentenário da independência, é importante lembrar que muitos brasileiros não conhecem aspectos importantes da história do país. “O projeto proporciona ‘furar a bolha’ dos esquecidos, apagados até dos livros”, comentou.
Emocionado, o pai de Cauã, o técnico em radiologia Júlio César, estava acompanhado da esposa Lucivânia e do irmão menor de Cauã, Matheus. Ele disse que a notícia da viagem foi uma surpresa. “Eram muitas crianças participando e buscando uma chance. Com o anúncio, o coração está apreensivo e ansioso, porque primeiro foram sete dias longe, participando do Campus, e agora será em Portugal, lá na Europa. A saudade vai ser grande, mas a felicidade em saber que ele estará realizando um sonho, conhecendo coisas que só via nos livros, é bem maior”, revelou.
Estímulo – A grande incentivadora de Cauã foi a professora e historiadora Eremita Tânia da Paixão. Ela conta que, desde o primeiro momento, tinha certeza de que o aluno seria escolhido. “Ele tem uma habilidade grande para a redação. Assim que soube do tema, fez um roteiro, sem que ninguém dissesse como. Ele tem um dom e isso é incrível”, disse emocionada.
A professora conta que Cauã montou uma história em quadrinhos, sobre a vinda de D. João, usando a habilidade para o desenho e a escrita para criar o HQ, com personagens da vida real. “Ele refez o texto diversas vezes, até conseguir contextualizar a história”, lembra.
Guerreiras – Também escolhida para a viagem, a aluna do 8º ano da Escola Municipal Jardim Santo Inácio, Ianna das Mercês Nascimento, de 14 anos, tem grandes expectativas para a viagem. Única representante da sua escola, ela conta que se emocionou quando escutou seu nome na lista de convocação. “Comecei a chorar, até agora a ficha não caiu, estou sem acreditar”.
Irmã mais velha, entre três filhos, a estudante disse ter paixão pela história, lembrando que se inspirou na mãe e na avó materna para construir a sua HQ. “A professora propôs um tema livre e eu resolvi contar em quadrinhos a história de Zeferina pela sua vida de luta, como as mulheres fortes e guerreiras da minha família”.
A mãe da estudante, a dona de casa Ingrid das Mercês de Jesus Simões, de 29 anos, não esconde a felicidade e o orgulho da filha. Ela conta que Ianna sempre foi estudiosa e disciplinada. “Eu a incentivava e dava apoio, dizendo que essa seria uma oportunidade de crescimento. Não sabia dessa referência de luta que eu e minha mãe temos na vida dela, estou lisonjeada demais. Será uma viagem feliz e com mais histórias para contar”, prevê.
A historiadora e professora da Escola Municipal Jardim Santo Inácio, Bárbara Dias Vergas, vai acompanhar os alunos da rede municipal de ensino de Salvador, durante os dez dias da viagem. Para ela, é uma enorme satisfação poder partilhar de conhecimentos sobre a história da Família Real. “Muitas das vezes, para um estudante, esse é um grande projeto de vida, como também é para mim. É a realização de um sonho, tendo a oportunidade de conhecer museus e parte da nossa história que está lá. Será uma experiência incrível de exploração, enquanto professora e historiadora”, disse.
Troca cultural – Além de Cauã e Ianna, foram também selecionados, em Salvador, os alunos Kauã Sousa Lopes, Josias Bispo dos Santos Oliveira, Silas de Araújo Barbosa, Pedro Santos de Jesus e Vitória Paim Gonçalves. Serão dez dias em Portugal e a viagem contará com visitas a pontos históricos e a escolas e universidades de Lisboa e regiões próximas, onde terão a oportunidade de trocar informações, diretamente, com estudantes e professores portugueses falando, inclusive, sobre os aspectos culturais regionais do Brasil.
Os estudantes brasileiros irão ainda apresentar os trabalhos produzidos por eles durante as etapas do projeto, incluindo o livro de HQs “O Outro lado da História”. São ao todo 100 histórias escritas e ilustradas pelos participantes, durante a primeira etapa do projeto, além de quatro filmes curtas-metragens produzidos pelos estudantes, que avançaram para a terceira etapa, durante o Campus de Arte-Educação. Os filmes foram desenvolvidos em grupo pelos jovens – do roteiro à filmagem -, contando com auxílio de uma equipe especializada apenas para a edição.
Projeto – O “Era uma vez…Brasil” reconta a história do Brasil, trabalhando em sala de aula narrativas não mostradas pelos livros didáticos tradicionais e exaltando a importância dos povos originários, na construção do país. O projeto conta com o apoio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, pelo Ministério do Turismo, Governo Federal. Na Bahia, conta com a parceria das prefeituras de Salvador e Mata de São João e o patrocínio da RTE Rodonaves.
A iniciativa desenvolve uma proposta pedagógica que acompanha o ano letivo das escolas. Durante as férias, em junho passado, foi realizada a etapa ‘Campus de Arte-Educação’, um acampamento educativo de sete dias, em que os alunos ficaram imersos, participando de oficinas de audiovisual, interpretação, roteiro, som e fotografia, além de vivências indígenas e afro-brasileiras em um quilombo, em Morro do Chapéu.
Foto: Lucas Moura/Secom