Um encontro promovido pela Prefeitura de Salvador reuniu os moradores de Ilha de Maré para a apresentação dos planos Físico-Territorial e Urbanístico Local da comunidade. Coordenado pela Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF), o evento foi realizado na última quarta-feira (10), na escola municipal da ilha.
Na ocasião, foram apresentadas as propostas com metas, de curto a longo prazo, a serem realizadas em diversas áreas, como infraestrutura, mobilidade, geração de emprego e renda e assistência social. Dentre os passos já realizados até o momento, a Prefeitura concluiu a topografia das vias internas que ligam as comunidades, além da autorização de três contenções de encostas, que serão instaladas nas localidades de Praia Grande e Santana. A intenção é de que o plano seja publicado em decreto municipal ainda este ano.
A presidente da FMLF, Tânia Scofield, ressaltou que os moradores têm participado ativamente da construção do projeto. “Em quase um ano, foram realizadas 40 oficinas aqui e vimos os desafios, que são diferentes de outros bairros – por exemplo, o acesso à localidade é mais difícil, pois depende da maré. Por isso, este plano vai ser orientado a partir das reivindicações que os cidadãos têm feito nos encontros, e isso é importante para que a gestão pública possa implementar um plano melhor para a Ilha de Maré”.
Também presente na ocasião, a titular da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Emprego e Renda (Semdec), Mila Paes, declarou que, no caso da pasta, o objetivo dentro do plano é identificar os potenciais econômicos dessas comunidades para construir um programa de desenvolvimento, com base no potencial de cada região.
“A gente sabe que a ilha tem um grande potencial turístico e de economia criativa. A partir de agora, a ideia é implantar programas coerentes com o que a gente viu dentro do plano, integrado ao que comunidade destacou e trouxe para a Prefeitura como prioridade para a região. Já temos beneficiários do CredSalvador em Ilha de Maré e a ideia é ampliar a atuação dos programas e ver quais têm mais aderência”, disse Mila.
Expectativa – A professora Ana Lídia Lopes é coordenadora pedagógica da escola municipal há dez anos e se reveza entre Salvador e Ilha de Maré. Para ela, o plano traz o anseio da comunidade em viver com uma infraestrutura adequada, além de poder estimular o crescimento local, respeitando as tradições quilombolas e trazendo a perspectiva da geração de emprego.
“A grande questão não é só manter a tradição da pesca, mariscagem e agricultura, mas fazer com que a Ilha de Maré mantenha a especificidade de zona rural. É importante ter esse olhar da reivindicação da comunidade, que tem que ser protagonista da ação. Acredito que é algo que vem para beneficiar e fico feliz, como educadora, ver uma iniciativa para melhorar a condição de vida das pessoas”.
Moradora da localidade desde que nasceu, Floricéia das Neves declarou que aguarda ansiosamente as melhorias previstas para a comunidade. “Eu estou feliz, porque há muitos anos espero por esse plano. Temos aqui posto médico, ambulancha que nos atende, mas uma localidade é longe da outra. Há tempos pedimos que abram uma estrada, para podermos fazer nossas coisas pela via terrestre. O plano é muito importante e a Prefeitura está de parabéns, sei que trará muitos benefícios para nós, realizando um sonho antigo da comunidade”.
O encontro contou ainda com a presença de representantes das secretarias municipais de de Ordem Pública (Semop), de Promoção Social, Combate à Pobreza Esporte e Lazer (Sempre), de Sustentabilidade e Resiliência (Secis), da Saúde (SMS) e de Infraestrutura e Obras Públicas (Seinfra), Fundação Gregório de Mattos (FGM), além de esferas estaduais e federais, a exemplo do IBGE e Superintendência do Patrimônio da União (SPU).
Elaboração – O Plano foi iniciado em outubro de 2020 e validado pelos moradores em julho deste ano. Ao longo desse período, foram realizadas oficinas com a participação efetiva dos moradores, sob a coordenação da FMLF. O objetivo dos Planos, tanto o Territorial quanto os Urbanísticos Locais, é promover o desenvolvimento sustentável e integrado de todo o território da Ilha de Maré.
A característica principal dos planos é a interdisciplinaridade, voltada para intervenções estruturantes necessárias à integração do território a partir da mobilidade, infraestrutura de saneamento, de equipamentos sociais e do zoneamento ambiental e urbanístico. A mobilidade é um dos principais problemas da Ilha de Maré, que afeta todas as 14 localidades que integram a ilha, tanto internamente, quanto no deslocamento até a parte continental de Salvador.
Entre as proposições contempladas nos planos para atender essa demanda, destacam-se a construção dos eixos viários estrutural e de orla marítima, reforma e construção de atracadouros e de vias locais. Atualmente, a população da ilha tem dificuldade em acessar os serviços públicos oferecidos à população por conta do transporte.
O investimento nas vias de acesso e atracadouro são importantes porque, atualmente, a ligação se constitui basicamente de caminhos e trilhas em um terreno acidentado e com vales estreitos, em solo de massapê.
Os planos urbanísticos locais são quatro, agregando as comunidades, em função da proximidade territorial. Alguns equipamentos estruturantes vão atender toda a ilha, a exemplo do centro esportivo, já que o futebol tem forte presença na ilha.
Foto: Lucas Moura/Secom