A capoeira é uma expressão que engloba arte marcial, dança, cultura e música, mas antes de ser uma arte, simboliza a luta e resistência dos povos africanos e afrodescendentes. Desde 1985, o dia 3 de agosto foi escolhido para celebrar a arte e também os capoeiristas. Em Salvador, projetos como as oficinas realizadas em equipamentos como o Subúrbio 360 e Centro de Artes e Esportes Unificado (CEU) de Valéria, e o edital Capoeira Viva, valorizam a arte-luta que se tornou parte integrante da identidade cultural da capital baiana.
Professor de capoeira no Subúrbio 360, em Coutos, o Mestre Zé Pequeno afirma que a expressão cultural é uma forma de tirar os jovens das ruas e das telas dos celulares, tablets e televisão. Na unidade, os encontros acontecem todas segundas e sextas-feiras, das 17h às 18h para dos 5 aos 7 anos, das 18h às 19h para jovens de 8 até 18 anos, e das 19h às 20h30 para adultos.
O próprio professor afirma que a capoeira o ajudou, através de uma pessoa que deu a ele a oportunidade de aprender a arte. “A capoeira que faço é socioeducativa. A gente aprende, socializa, ressocializa, educa de forma direta e com muita disciplina”, declara Zé Pequeno.
Capoeira Viva – Outra forma de incentivo é através do edital Capoeira Viva, da Fundação Gregório de Mattos (FGM), que chega à terceira edição em 2022. A ação vai investir R$300 mil em 17 projetos de pessoas físicas ou jurídicas, a serem realizados na capital baiana. Em fase de análise de projetos, a iniciativa deve divulgar o resultado no final deste mês.
De acordo com o gerente de Patrimônio Cultural da FGM, Vagner Rocha, os mestres, contramestres e professores, oriundos de diversas comunidades de Salvador, têm reconhecido a importância do edital para possibilitar a realização de outras ações e ampliar o trabalho sociocultural da capoeira. “Para nós, da FGM, é importante manter e anualmente lançar o prêmio, justamente por reconhecer a importância da capoeira para formação dos cidadãos, de jovens e adultos conscientes da importância, do trabalho coletivo, de gingar com as dificuldades da vida”.
Atuante no grupo de Capoeira Mangangá, o artista e capoeirista Tonho Matéria destaca a importância do Capoeira Viva. “Apesar de ainda não alcançar de forma ampla todos os capoeiristas, contempla projetos e isso é importante, pois ajuda a construir a história. Afinal de contas, a capoeira se espalhou e criou a sua própria diáspora, valorizando e eternizando diversos mestres como Jelom, Acordeon, João Grande e Pastinha. É uma força desse povo que veio da África e que trouxe para nós, descendentes, essa cultura riquíssima não só como luta de resistência, mas trouxe a música, que chamávamos de batuque e que se transformou no samba chula”, contextualiza.
Guarda Municipal – Como parte do trabalho social realizado pela corporação, a Guarda Civil Municipal (GCM) também promove aulas de capoeira para comunidade, em parceria com a instituição Morada dos Bambas. As atividades, realizadas há cinco anos, são voltadas para crianças e jovens da comunidade no entorno da base da Guarda e trazem como metodologia a teoria e prática de capoeira abordando a musicalidade, história, hierarquia, além de primeiros socorros e palestras sobre prevenção à violência.
Reconhecimento mundial – A roda de capoeira e o ofício dos mestres são reconhecidos como patrimônio material desde 2008 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Em 2014, passaram a ser considerados como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Foto: Otávio Santos/Secom