É fácil acreditar em acusação falsa contra alguém que a pessoa detesta enquanto o discurso anticorrupção demagógico e mentiroso, para desviar as atenções sobre si e amigos, ganha logo aplauso e votos. No entanto, prometer lutar contra a corrupção geralmente acaba em desmoralização. Muitas vezes o discurso anticorrupção serve para afastar suspeitas ou é só inveja de quem já se deu bem em licitações e outras veias abertas.
Os processos já encetados contra a doença crônica da corrupção se esgotam logo: a República veio para combater a corrupção da monarquia e o Estado Novo para combater a roubalheira da República Velha. Cada governo promete abrir a caixa preta do anterior mas cria novas caixas e caixinhas de várias cores. A última operação nesse rumo, a Lava Jato, só deixou os corruptos mais precavidos e cuidadosos, queimando arquivos, apagando pistas e lavando mais branco o dinheiro.
No livro “Corrupção e poder no Brasil: uma história, séculos XVI a XVII”, Adriana Romeiro conta que havia duas regras da aristocracia portuguesa para praticar a corrupção no Brasil sem castigo: agir com discrição e não abusar da roubalheira. Roubar de milhão em milhão funciona mais que roubar um bilhão de uma só tacada. Por isso a corrupção miúda, de mil em mil, continua firme e forte por baixo dos orçamentos secretos e discursos anticorrupção. Não roubar muito é também roubar.