Salvador dará início a ações educativas voltadas à sensibilização de trabalhadores, moradores e frequentadores da orla, para atuar na preservação das tartarugas marinhas. A atividade integra as ações estabelecidas por meio de uma parceria entre a Secretaria de Cultura e Turismo (Secult), através do Programa Nacional de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur), com o Projeto Tamar. A ação conta com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
A proposta é que o Tamar mapeie, monitore e identifique ninhos de tartarugas, no trecho de Itapuã a Ipitanga, área considerada de maior incidência de desova na capital, além de informar e engajar a população na proteção destes animais.
A primeira ação educativa, intitulada Amigos da Tartaruga, ocorrerá nesta terça-feira (15), às 15h, na Unidunas, e contará com a presença de representantes de ONGs na área ambiental e moradores da região. A atividade vai abordar a importância da preservação da espécie, o que fazer ao encontrar um animal morto na orla, de que modo proceder ao identificar tartarugas na faixa de areia, entre outras questões práticas, no cuidado diário com os animais.
Importância– De acordo com a bióloga pesquisadora do Projeto Tamar, Nathália Regina Berchieri, a expectativa é que com a requalificação do trecho de orla de Stella Maris, por exemplo, a praia fique ainda melhor para as tartarugas. O trecho está passando por urbanização e ganhou postes de iluminação posicionados para a área de caminhada, sem passar luminosidade para a faixa de areia. Esta medida, explica a bióloga, é essencial para não prejudicar os animais.
Segundo Nathália, a luz afugenta a fêmea, que sai à noite para desovar, e desorienta os filhotes, o que pode ser fatal, pois eles nascem no período do final do dia até o início da manhã seguinte e se guiam na escuridão da praia pela luminosidade do horizonte, da lua, estrelas e espuma das ondas.
“É a luz que desperta os filhotes para fazer a caminhada até o mar. Se houver qualquer luz, direta ou indireta, que chame a atenção dos filhotes fora da faixa de areia, eles fazem o caminho inverso. Neste caso podem ficar desidratados, por passar horas procurando o destino, ser predados por algum animal que transite na praia e, em alguns casos, atropelados por acessar a via pública”, detalhou.
O secretário da Secult, Fábio Mota, ressaltou que a iniciativa faz parte das ações de proteção ambiental presentes no projeto de requalificação desse trecho da orla. “Desde o início das obras, a maior preocupação da gestão foi proteger todas as espécies de fauna e flora do local. Para tanto, a obra sempre teve acompanhamento de biólogos, que nos atentou para importância da criação de um viveiro com mudas de restingas para preservação de toda fauna e flora na região, local que também tem uma Área de Proteção Ambiental (APA). Para reforçar esse monitoramento, a chegada do Tamar será um aliado importante para a preservação da fauna marinha, principalmente na identificação de ninhos de tartarugas”, destacou.
Ações – Em Salvador, a maior incidência de desovas das tartarugas marinhas ocorre de março a setembro. Durante este período, as equipes vão percorrer diariamente trechos de praia, identificando e protegendo as desovas, além de avaliar se a área pode acolher o ninho, ou se ele precisa ser realocado. Também será realizada a proteção dos ninhos, colocando marcações para que humanos não caminhem sobre eles, além de numerá-los para acompanhamento.
A bióloga lembrou que o conhecimento é essencial para que possamos desfrutar das praias sem interferir nos processos da natureza. “Dá para haver consenso e harmonia, porque as tartarugas usam as praias à noite e as pessoas durante o dia. Acredito que, com as atividades de educação ambiental, como palestras e caminhadas, para conversar com quem trabalha na praia, vamos engajar novos colaboradores na conservação. A tartaruga é de todos”, reforçou.
A estimativa do Tamar é que em Salvador, no período típico de desova, sejam encontrados anualmente 250 ninhos de tartarugas marinhas. Cada ninho corresponde ao nascimento de 80 a 100 animais, o que resulta em, ao menos, 20 mil novos filhotes por temporada. As espécies mais comuns de tartarugas marinhas encontradas na orla da capital baiana são cabeçuda, pente e oliva.