A guerra entre Rússia e Ucrânia começou e as primeiras reações já afetam o mundo. As bolsas de valores despencaram, o preço do petróleo foi às alturas e diversas nações estão retraídos seus planos de retomadas econômicas por conta dos efeitos da guerra. Os primeiros ataques dos russos contra a Ucrânia atingiram bases militares e pistas de aeroportos, causando mortes de militares e civis. Em um único dia foram registrados 203 ataques nas primeiras horas de conflito armado. Mais de 70 alvos foram destruídos.
Como resposta aos ataques, os Estados Unidos reagiram imediatamente com o anúncio de um pacote de sanções contra a Rússia. A Rússia garantiu dar resposta “forte” e “dolorosa” aos norte-americanos após sanções, acusando de “chantagem e intimidação”, mas disse que continua aberto para negociações diplomáticas. No decorrer do dia foi confirmada a invasão do território ucraniano e, a usina nuclear de Chernobyl, foi tomada por tropas russas, aumentando atenção na Europa.
Apesar do presidente russo, Vladimir Putin, ter falado que está evitando uma guerra mundial, no primeiro dia de conflito, com bombardeios, invasões e mortes, a guerra mostrou que tem dimensão mundial ao afetar a economia de imediato e de mover várias nações em aglomerados de apoio à Ucrânia. Tudo indica que, a partir dessa semana, o mundo inteiro terá consequências diárias e toda a humanidade pagará a conta de uma guerra que indica ser muito cara.
O preço do petróleo superou nesta quinta-feira (24) os US$ 100 pela primeira vez em mais de sete anos.
A Rússia é um dos grandes produtores de petróleo, e um conflito militar afeta o mercado do produto. Além disso, sanções impostas pelos EUA e pela União Europeia também podem pressionar o preço da energia, direta e indiretamente.
Se a guerra provocar a interrupção do comércio euro-russo de combustíveis, os europeus terão que procurar energia em outra parte, em um mercado mundial que ficará ainda mais apertado e caro, a não ser que a Arábia Saudita traia a Rússia, sua aliada informal no cartel dos grandes produtores, e aumente sua produção do produto.
Na terça, por exemplo, a Alemanha já havia congelado a certificação do gasoduto Nord Stream 2, que liga a Rússia ao país europeu e está pronto, mas sem poder operar devido à crise na Ucrânia.
Na tarde dá última quarta (23), o presidente americano Joe Biden também anunciou sanções à Nord Stream 2 AG, empresa responsável pelo gasoduto, e seus dirigentes.
Cerca de 66% do gás e de 29% do petróleo que a Alemanha compra fora da União Europeia vêm da Rússia. Cerca de 44% do gás importado pela União Europeia vem da Rússia, assim como 25% do petróleo.
O Nord Stream 2 duplicaria a capacidade de transporte de gás natural pelo mar Báltico, possibilitando à Rússia desviar o fornecimento que hoje é majoritariamente feito por meio justamente da Ucrânia e da turbulenta ditadura aliada Belarus.
Preço dos alimentos pode subir
A Ucrânia vende 17% do milho do mercado mundial, um peso relevante, embora fique atrás de EUA, Brasil e Argentina. Ucrânia e Rússia exportam 30% do trigo comprado pelo resto do planeta.
Apesar disso, na sexta-feira passada, a mídia especializada em grãos estava mais preocupada com a safra de soja e milho de Brasil e Argentina, prejudicada pelo mau tempo. A principal preocupação relacionada ao conflito era a de alta do preço do trigo, de passagem.
Instabilidade derruba o preço de ações e faz dólar subir
Sempre que há uma crise política grave, papéis de maior risco, como ações, são afetados. Após o anúncio da invasão, ações globais e mesmo títulos do Tesouro americano despencaram, enquanto as cotações do dólar, ouro e petróleo dispararam após tropas russas deslancharem um ataque contra a Ucrânia.
A busca por segurança global por parte dos investidores impulsionou o dólar, que subia mais de 0,5% em relação a cesta de moedas de seus principais parceiros comerciais. O euro, por sua vez, caía 0,8%.
Já a moeda russa, o rublo, despencou quase 8% mesmo após pausa na sua comercialização, atingindo patamar mais baixo já registrado. Banco Central russo anunciou intervenção no mercado para conter queda.
O movimento contaminou também os mercados de criptomoedas, fazendo o bitcoin cair abaixo dos US$ 35.000 pela primeira vez em um mês.
Energia e dólar em alta pressionam ainda mais a inflação
Mesmo com o dólar fechando no Brasil nesta quarta-feira (23) a R$ 5,003, a menor cotação da moeda americana desde 30 de junho de 2021, as altas persistentes de petróleo e alimentos anulavam o possível alívio e evitavam que a inflação brasileira, já alta, cedesse.
Além disso, já havia entre os economistas a avaliação de que a tendência para o real até o final do ano era de o real se desvalorizar (ou seja, a cotação do dólar subir), enquanto os preços das commodities tendem a continuar em patamar elevado.
Por isso, as projeções de inflação para 2022 continuam se deteriorando já mesmo antes do impacto da guerra sobre o dólar.
A guerra na Ucrânia afeta preços de petróleo, gás natural, grãos e óleo de cozinha, pelo menos, encarecendo alimentos também no Brasil.
Os preços da indústria brasileira, que já estavam pressionados por causa do dólar muito caro até dezembro e pela persistente escassez mundial de insumos, também devem sofrer novo impacto com a alta da moeda americana.
Instabilidade afeta o crescimento A depender do tamanho da guerra, o impacto sobre a confiança econômica pode ser grande e se estender por pelo menos alguns meses, o que reduziria as perspectivas de crescimento econômico.
Empresários e investidores temerosos costumam adiar novos projetos ou expansões, o que significa menor oferta de emprego.
Esperamos que as consequências sejam menores do que as previstas e que a guerra não estenda tão longo tempo como se imagina. Paz na terra!