Aquidabã, Pela Porco, Mares, Politeama, Barra, Comércio, Piedade. Essas e outras localidades fazem parte do roteiro diário da equipe do Serviço Especializado em Abordagem Social (Seas), que busca sensibilizar as pessoas em situação de rua a deixar a condição de vulnerabilidade e risco social, mudar de vida e acessar os serviços municipais, oferecidos pela Secretaria de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esportes e Lazer (Sempre). Nesta quinta-feira (19), Dia Nacional de Luta pela População de Rua, não é diferente. As equipes trabalham ininterruptamente, de domingo a domingo.
De acordo com a diretora de Proteção Social Especial, Kelly Morais, em alusão à data, várias ações foram realizadas em todos os quatro Centros Pops e nas Unidades de Acolhimentos Institucionais (UAIs), administrados pela Sempre. “Afinal, eles já vêm com suas dores das ruas e temos que abrir portas, pois existem muitos corações bons e qualificados que precisam ser moldados e acarinhados, saber novamente o que é ser gente”, destacou.
Na UAI de Amaralina, por exemplo, um dos conselheiros da Assistência Social de Salvador, Lucas Gonçalves, dirigiu uma roda de conversa num formato diferente, onde a palavra vinha do acolhido. Aos assistidos, foi reforçada a importância de fortalecer a cidadania e a luta por direitos e pela dignidade.
Depoimentos como o do idoso Paulo Roberto, 69 anos, sensibilizaram os presentes ao contar ter sido tirado da sua residência por conta de uma briga judicial com a ex-esposa. “Em plena noite de Natal, com a ceia pronta, geladeira e despensa cheias. Eu tinha dignidade, mas tudo me foi arrancado. Minha casa era herança e nunca podia ter sido tirada de mim. Hoje estou aqui, tentando me resignar com o trabalho voluntário, que já fazia antes”, desabafou, sem esconder a indignação.
De acordo com o secretário Kiki Bispo, todos os serviços oferecidos pela Sempre buscam dar o máximo de dignidade às pessoas que têm uma história de vida antes de viver nas ruas. “Todas as equipes trabalham caso a caso, no sentido de curar essas dores que tanto maltratam e atingem o psicológico dos assistidos”, pontuou.
Fortalecimento de vínculos – Por meio de um trabalho de fortalecimento de vínculos, atenção e respeito a cada indivíduo, o cidadão em situação de rua que aceita os serviços ofertados, de acordo com o perfil apresentado (homem, mulher, mulher com filhos, casal, casal com filhos, idoso), é encaminhado a uma das 17 unidades de acolhimento institucional.
“Uma equipe multidisciplinar, através de uma escuta qualificada e do trabalho psicossocial, busca a prevenção do agravamento de vulnerabilidades, o fortalecimento da autoestima e promoção do acesso à rede socioassistencial e a outros órgãos da Rede de Garantia de Direitos”, reforçou o titular da Sempre.
De janeiro a julho deste ano, as equipes do Seas realizaram mais de 31 mil ações de abordagem social, com o objetivo de sensibilizar as pessoas em situação de rua a deixar a condição de vulnerabilidade e risco social, mudar de vida e acessar os serviços municipais oferecidos pela secretaria. Estas abordagens resultaram em 1.763 acolhimentos.
Djalma Xavier, 50 anos, passou nove meses em situação de rua. Quando ficou desempregado, e sem condições de pagar o aluguel, preferiu se afastar da família. Depois de ser acolhido, trabalha como educador social na Unidade de Acolhimento Emergencial de Coutos e se orgulha da própria trajetória de vida.
“Se a população que está nas ruas de Salvador hoje quiser uma mudança de vida, a hora é essa. Eu vivi isso, mas foi me dada a oportunidade para mostrar que é possível. Quando me olho no espelho, me sinto importante. Hoje eu estou fazendo algo para a sociedade, estou cuidando de gente como eu estava e fazendo a minha parte para a sociedade”.
Demais serviços – A Sempre também realiza a inscrição dos acolhidos em projetos e benefícios socioassistenciais, como o Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), Minha Casa Minha Vida e benefícios eventuais como o Auxílio Moradia, auxílio passagem (no caso de migrantes) e encaminhamento para retirada de documentação oficial, a exemplo da carteira de identidade. Também é providenciado o acesso à rede de ensino e capacitação profissional, com vistas à inclusão produtiva e o desenvolvimento de autonomia financeira para garantir o empoderamento dos indivíduos na sociedade.
Os acolhidos que adquirem a autonomia necessária para gerir a própria vida são inseridos no programa para recebimento do Auxílio Moradia, benefício no valor de R$300 mensais para que possam alugar um imóvel e voltar ao convívio em sociedade. Os assistidos são então acompanhados pelas equipes dos Centros de Referência da Assistência Social (Cras) do território onde residem, que, além de ofertar os serviços socioassistenciais, monitoram a aplicação do benefício recebido. O valor é concedido até que a pessoa adquira a condição de custear a moradia com recursos próprios ou receba imóveis dos programas habitacionais.
Foto: Vitor Santos/Sempre