No próximo domingo (16) comemora-se o Dia do Gari. Esses agentes que atuam no recolhimento dos resíduos e limpeza das ruas vão além do que apenas deixar a cidade mais bonita e organizada. Em Salvador, um desses profissionais usa o tempo livre para se dedicar a uma paixão: os estudos. Dentre os temas de interesse estão novos idiomas e até mesmo um curso de ciências mortuárias.
Aos 36 anos, Jônatas Filipe dos Santos atua na equipe de desinfecção da Covid-19, faz diversas capacitações e não cansa de buscar conhecimento. Nos contraturnos de trabalho na Empresa de Limpeza Urbana (Limpurb), ele ocupa o tempo estudando. Atualmente está se especializando em espanhol, mandarim, chinês e japonês, e até em auxiliar de necropsia e perícia criminal.
A rotina diária começa por volta das 5h, quando ele sai de casa, no bairro de Tancredo Neves para trabalhar. No ônibus, aproveita para colocar a leitura dos estudos em dia. Ele começa a trabalhar às 7h até 12h, quando vai almoçar, e retoma das 13h às 15h20. Costuma chegar em casa entre 16h e 17h, e descansa para dar atenção à família. Depois, vai novamente estudar. O jovem conta que, muitas vezes, vai dormir até 23h, mas já varou noites para não perder o assunto.
A curiosidade pela área forense veio na adolescência. Em 1996, começou a estudar um livro de medicina e ganhou interesse no assunto. Ele conta que teve experiências de vida que contribuíram para criar amor pela área, de querer conhecer e saber como funciona o trabalho para a sociedade. Em 2019, ele conseguiu uma bolsa de estudos e começou a cursar necropsia. Antes mesmo de terminar, ele iniciou mais um estudo em ciências mortuárias.
O interesse por línguas estrangeiras aconteceu de forma natural. Fã de rock, o agente de limpeza possui uma banda que, por conta da pandemia, está parada. Com o chinês e o japonês em prática, ele atua de forma autônoma lançando CDs de bandas de rock no exterior, de forma voluntária. “Aprendi pela comunicação pessoal e ajuda bastante”, completou.
Experiência e aprendizado – Santos afirma que trabalhar como agente de limpeza deu a ele a oportunidade de conquistar novas experiências e a casa própria, além de promover melhorias para sua família. Ele, que já sofreu preconceito no dia a dia, confessa: “Pego tudo de ruim e transformo em positividade, pois ajuda no meu crescimento profissional.”
Ele conta que se sente bem em ser agente de limpeza. “Considero um trabalho importante e mesmo tendo interesse em outras áreas, me sinto completo. Acho vital o nosso trabalho, aprendi muito, conheci pessoas, construí relações de amizade e cresci profissionalmente. Vou levar o que conquistei para o resto da vida”, complementa.