Os professores se reinventaram. Nesse período de pandemia do Covid-19, eles foram obrigados a refazer todo o planejamento das aulas, gravar em vídeos os conteúdos das disciplinas, criar canais em redes sociais, mudar avaliações, fazer busca ativa de alunos e se aproximar das famílias dos estudantes.
O suporte da mudança foi a internet, mas o episódio não se restringiu a uma revolução digital. Houve uma transformação comportamental dos professores para não perder a conexão com os alunos e manter a aprendizagem.
A dedicação dos professores é tanta que, criam grupos por turma, por onde passa áudios e vídeos com aulas e instruções. Os alunos fazem as tarefas no caderno, tiram foto, mandam de volta para ele corrigir. Também tiveram que transformar as salas de suas casas em salas de aula, sala de estudos, e todo o conteúdo da noite para o dia preparado para a aula virtual.
Mas essa não é uma realidade para todos os alunos da rede pública que, em geral, não têm acesso facilitado à internet. As dificuldades de concentração, principalmente de crianças menores em atividades on-line, além do tempo que os pais precisam dividir entre o trabalho e o acompanhamento dos filhos. Na rede pública, em especial a municipal, o desafio está ligado às desigualdades sociais ,alunos sem computadores ou acesso à internet e, em alguns casos, sem locais adequados onde possam estudar em casa.
Algumas escolas de educação infantil aderiram ao ‘drive thru’, em que o pai passa na escola para pegar materiais impressos ou a escola manda entregar na casa do aluno para que, com esse material, seja possível realizar as atividades. Basicamente, esses são os caminhos que estão sendo utilizados pelas escolas no Brasil para atingir o maior número de alunos possível.
O ano de 2021 reserva muitos desafios para a educação. A continuidade da aprendizagem, entretanto, não pode depender exclusivamente dos esforços individuais dos professores.
É necessário engajamento de toda a rede de ensino e das unidades federativas para que o ensino seja garantido aos estudantes.
É necessário conseguir fazer um bom acompanhamento de como o ensino remoto tem se dado, de como as aulas têm acontecido, de quais são as dificuldades que os alunos têm enfrentado, quem tem participado das aulas, feito as atividades e quem não tem feito. Acho que tem que haver um bom modelo de gestão, não passa só pela iniciativa do professor fazer algo inovador ou estar próximo dos alunos.
Tem que ter sistemático: o professor passa as informações para o coordenador pedagógico ou diretor, o diretor passa para a secretaria de educação e aí é possível visualizar se os alunos estão aprendendo ou não estão. Um bom modelo de gestão faz muita diferença
Com a perspectiva de que o ensino remoto se estenda, é preciso oferecer formação aos profissionais e equipamentos. Há uma nova realidade de que ensino, tecnologia e trabalho a distância vão se tornar mais presentes e vão se tornar uma necessidade. Há uma pauta formativa que precisa de investimento, de olhar e, acho que passa por secretarias [de educação] maiores, que têm mais estrutura, ajudar a oferecer formação para as secretarias menores.
O ensino remoto é uma alternativa democrática para a continuidade dos estudos. Ele requer o habitus enquanto manifestação da internalização das regras de convivência social ou do jogo nos campos social e educacional. Saber jogar bem esse jogo, vai depender do capital cultural disponível pelas famílias nas frações de classe às quais pertencem .