Três consultoras de carreira dão dicas de como aumentar as chances de se recolocar no mercado de trabalho
A tradição é sempre a mesma: o ano novo chega e as resoluções se renovam. Mas, para quem está em busca de um emprego, não bastam pedidos e expectativas. É preciso planejamento e persistência para alcançar a tão sonhada vaga, segundo os recrutadores. Com a retomada lenta da economia complicando a recolocação de milhares de profissionais, o desemprego ainda elevado aumenta a concorrência na corrida pela vaga.
Especialistas dizem que a rotina diária de um profissional desempregado em busca de recolocação deve ser encarada como um trabalho. Segundo eles, essa rotina deve incluir atividades como enviar e atualizar currículos, se informar sobre o mercado e entrar em contato com pessoas que possam ajudar a encontrar a vaga.
“É preciso quebrar a crença de que se pode descansar um pouco até que outra vaga apareça. Enquanto isso, existem muitos concorrentes trabalhando para estar com a empregabilidade em alta”, alerta a mentora em recolocação, master coach e hunter Eliane Tenorio de Brito.
O G1 ouviu Eliane, Mylena Cuenca, headhunter na Trend Recruitment, e Joana Lage, head de People da plataforma de recrutamento digital Revelo, para dar dicas de como aumentar as chances de arrumar um emprego em 2020.
1) Objetivo e autoconhecimento
Joana Lage: Reflita sobre o tipo de trabalho que busca. Quais são as oportunidades que se aplicam à sua realidade? Quais tipos de empresas têm a ver com os planos e objetivos futuros? O que exatamente procura? Estar por dentro do universo da sua profissão e investir em cursos de especialização, palestras e encontros informais ajudam a se manter atualizado e aumenta a rede de networking.
Mylena Cuenca: Qual seu objetivo e suas perspectivas? Para ter clareza do objetivo profissional, a pessoa deve conhecer suas habilidades, competências técnicas e também seus pontos a serem melhorados. O autoconhecimento e o feedback de mentores e líderes são excelentes ferramentas nessa primeira etapa. Quando você conhece seus potencias de carreira fica muito mais fácil escolher um caminho para seguir. Escrever esse objetivo é importante para manter o foco e entender por que esse novo desafio trará realização profissional.
2) Escolha das empresas
Mylena Cuenca: Liste as empresas onde você deseja trabalhar para estar alinhado com a cultura organizacional e compartilhar dos valores empresariais. Prefere empresas com culturas mais agressivas, direcionadas para metas e resultados, porém, com um crescimento mais acelerado? Ou empresas mais colaborativas e inovadoras, com áreas de descompressão e ambientes inspiradores? Estude sobre esses ambientes de trabalho, sobre o propósito empresarial, converse com pessoas que trabalham nesses lugares ou conheça a cultura corporativa. Se você não se identificar com a empresa, não adianta investir tempo e energia para trabalhar nela.
3) Networking
Mylena Cuenca: Criar e cultivar redes de relacionamento é a melhor maneira de se recolocar no mercado de trabalho. Se o que você deseja em 2020 é um emprego, saiba que provavelmente essa oportunidade surgirá dentro da sua rede de relacionamentos. Quanto mais ativo você for, melhor; fale para as pessoas sobre seus objetivos e interesses, mostre seus potencias de carreira, compartilhe artigos, faça parte de grupos de discussões diversos. Não tenha receio de adicionar aos seus contatos headhunters ou profissionais de RH, essa é uma forma de mostrar que você está aberto a novas oportunidades. Lembre-se, quem não é visto não é lembrado, por isso, seja ativo na sua rede profissional.
Joana Lage: A partir do momento em que sabemos o que estamos procurando, podemos acionar diversos contatos: amigos, familiares, ex-colegas de trabalho e também grupos online. Caso não seja possível participar de palestras e encontros, esses grupos em redes sociais como LinkedIn e Facebook podem auxiliar na criação de redes de conexão. Mesmo não sendo tão explorado, o poder do “boca a boca” continua sendo uma ferramenta bastante efetiva quando nos referimos a encontrar novos desafios.
4) Currículo
Eliane Tenorio de Brito: Seja específico quanto ao seu objetivo. Currículos devem ter, no máximo, duas páginas. E precisam ser bonitos, modernos, interessantes. Imagine o recrutador na frente da sua caixa postal fazendo a triagem inicial para um processo seletivo onde recebeu mais de 500 currículos para uma única vaga! Qual a chance de seu currículo ser selecionado? Junto com o currículo você pode enviar uma Carta de Apresentação, na qual faz o seu marketing pessoal, conta sobre suas principais realizações e já informa algumas de suas características comportamentais, as chamadas soft skills. Entregar currículos impressos também funciona. Dependendo da cultura da empresa ou da cidade, ainda é comum receber currículos impressos. Cidades do interior estão mais abertas para isso. Mas tome cuidado: coloque seu currículo em um envelope limpo e nunca, jamais, entregue currículos amassados ou rasurados.
Mylena Cuenca: Atualize seu currículo, tanto o impresso quanto o online. Agora que você já sabe onde quer chegar, construa seu currículo com suas habilidades e competências que estejam linhadas com o seu objetivo. Dedique tempo a essa atividade, peça ajuda e aconselhamento, o mais importante é ser assertivo. Quando mais dedicação você empregar nessa fase, menos terá que voltar a essa tarefa com o passar dos meses.
Joana Lage: A melhor estratégia é colocar todas as informações relevantes sobre suas experiências em apenas uma página. Vale chamar a atenção para atualizar também o LinkedIn: seu perfil na rede social e seu currículo devem ser o espelho um do outro.
5) Planejamento
Joana Lage: Neste momento, encontrar uma oportunidade deve ser prioridade em sua vida. Por isso, é importante estabelecer metas referentes ao número de horas dedicadas, quantos currículos serão mandados por dia, quais plataformas fazem sentido para essa busca.
6) Mídias sociais
Eliane Tenorio de Brito: O uso das mídias sociais deve se tornar um hábito, uma obrigação. Cadastrar seu currículo nos sites de empregos, nos sites das empresas onde você gostaria de trabalhar e no LinkedIn, que tem estratégia para elevar seu networking desde que você faça a sua parte na interação com pessoas-chaves. Criar um perfil não é suficiente. Tem que fazer networking todos os dias. Você deve buscar interação com pessoas estratégicas, porém, com o devido cuidado para não se tornar invasivo. Curtir e comentar as publicações de quem você segue é muito saudável. Se gosta de escrever, escreva pequenos posts sobre sua área de atuação, isso vai gerar movimentação no seu feed.
7) Atualização profissional
Mylena Cuenca: Invista tempo na sua atualização profissional. Pode ser um curso de idiomas, uma habilidade técnica não desenvolvida, habilidades comportamentais, como a de liderança, por exemplo. Essa é uma etapa de médio e longo prazo porque exige estudo e tempo. Uma vez identificada, comece a desenvolver essa atualização, não espere ser chamado para uma posição ou ser cobrado, seja proativo. Isso também se aplica à reciclagem do conhecimento, a se manter atualizado sobre seu mercado de atuação, e a acompanhar novas tecnologias que impactam o dia a dia do seu trabalho. Essa etapa é muito importante, principalmente para quando você estiver na etapa de entrevista presencial.
8) Soft skills
Eliane Tenorio de Brito: É importante conhecer as soft skills (habilidades comportamentais), pois conhecendo suas qualidades e seus pontos a serem melhorados você ficará mais à vontade para conversar com o recrutador a respeito. Se o recrutador pergunta “Quais são seus pontos fracos?” e você responde: “Sou muito ansioso”, você se enquadra entre os 90% dos candidatos que respondem a mesma coisa. Você poderia trocar essa resposta por algo do tipo: “Considerando que meu perfil predominante é o executor, eu foco muito no resultado e não me atento muito ao detalhamento das coisas, ponto ao qual preciso direcionar minha atenção”. Além disso, competências como empatia, sociabilidade, condescendência, dominância e perfil multitarefa são muito apreciadas e vêm sendo também avaliadas em processos seletivos que usam inteligência artificial para selecionar candidatos.
9) Entrevista
Eliane Tenorio de Brito: Se preparar para uma entrevista não é tão simples como parece. Você precisa ser diferente da maioria, se destacar e sair dos clichês. Isso começa no retorno do e-mail agendando a entrevista, passa pelo seu vestuário, pelo perfume que você não deve usar, por técnicas como o rapport (conexão) com o recrutador, foco nas respostas, olho no olho e técnicas de negociação para utilizar quando o recrutador lhe perguntar qual a sua pretensão salarial. Nesse caso, evite dizer um valor logo de cara, procure saber o pacote de benefícios e outras vantagens que podem agregar valor ao seu salário antes de dizer o que pretende ganhar. Entrevistas online estão sendo cada vez mais utilizadas, por isso, esteja preparado. Verifique se o aplicativo está funcionando antes do horário agendado, não se atrase e olhe para o recrutador.
Mylena Cuenca: Estude a empresa e a vaga antes da entrevista, chegue preparado para uma conversa sobre sua carreira. Transmita segurança, boa energia e interesse na vaga. Mantenha a conversa cordial e animada, mas sem o uso de gírias e tomando cuidado com a comunicação informal. Lembre-se de que o seu corpo também se comunica e a sua postura e atitude podem negar ou afirmar aquilo que você está dizendo.
Joana Lage: A entrevista é o momento de trabalhar e treinar a sua apresentação. O que você quer contar? Que mensagens você quer passar para quem está te escutando? Quais os pontos de sua experiência que podem chamar a atenção do recrutador? Foque em histórias que trazem suas melhores características e pratique o discurso com amigos, além de, principalmente, estudar sobre a vaga para a qual você está se candidatando.
10) Atitude positiva e persistência
Joana Lage: Encontrar um emprego é um processo. Apesar do desgaste, mantenha uma postura positiva e aprenda com os feedbacks negativos. Seja perseverante e transpareça seu foco em conquistar o resultado estabelecido no começo de sua jornada. Essa atitude é inclusive observada pelos recrutadores durante conversas e entrevistas.
Mylena Cuenca: Não desanime, é bem possível que sua recolocação não aconteça na primeira entrevista que você fizer. Entenda que não existe o candidato certo e errado, e sim aquele que melhor se encaixa na vaga naquele momento. Portanto, peça feedback aos recrutadores, aprenda com seus deslizes, continue investindo no seu desenvolvimento profissional e entenda que quanto mais você se dedica ao seu objetivo, mais portas irão se abrir na sua jornada. Entenda que todo profissional bem-sucedido na carreira também já recebeu muitos nãos no passado e, tudo bem, faz parte. Tudo no seu tempo.
Eliane Tenorio de Brito: Ajude outros desempregados que você conhece compartilhando as vagas que recebe em grupos de WhatsApp ou outras mídias sociais. Amanhã você poderá ser lembrado por alguém que você ajudou. Gentileza gera gentileza.
Por:G1